Um herói. Meu herói estava ali, esparramado na minha frente. Foi vítima da própria
euforia. Deu-se em energia, aliás, como sempre fez, e restou flácido. Nem os heróis
estão imunes àquela malvada.
Acontece que ele podia.
Ele era um louco. Louco por se entregar daquele jeito. Quem além de um louco é capaz
de amar assim?
Era uma lenda que se apoiava no meu ombro. Eu sabia. Ele sempre soube, mas não sabe
disso. É um fanático. Ninguém segura um fanático. Ninguém que não seja ele mesmo.
Agora, enquanto lutava com um palheiro velho, ele desabafava. “Amanhã eu vejo. Hoje
me sinto mais velho do que sempre fui”. E era assim que ele se sentia. Admitia culpa
porque assim fazem os loucos. Só nunca se deu conta de que éramos nós os velhos que
lhe consumíamos a jovialidade.
Chorava a morte dos vinte. Estufava os pulmões para dizer – se fazer ouvir por aqueles
que já não se importavam – que ele tinha os olhos virados pro presente. “Do passado,
nem uma vírgula eu quero mudado”.
Trago tudo. Trago um bom trago. Me tragam. Me trazem pra cá, pra onde eu queria
estar. E o que eu levo são vocês. Comigo, ainda que na lembrança.
Não vi, nem ouvi nada. Pode ficar tranqüilo. Nada conta, mas conta comigo; e conto ele,
conto dele, contamos muito juntos; no fundo, quero mesmo que ele conte de mim. Se
precisar, conta pra mim; se não quiser, conta comigo mesmo assim.
E a gente canta a vida como se fosse um conto.
Eu já não sei se sou eu ou é ele quem está escrevendo.
Um comentário:
"Olímpico"
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