quinta-feira, 28 de junho de 2012

O abraço


                O Tempo um segundo longo e infinito, atrito sem raspas, um abraço com o que não se toca, o impalpável vivo, e toda a natureza torta. Eu não sei do Tempo.
                Abraçou-me o olhar vago e triste, lago furna fundo de água escura, rígida como pedra caso um vaso arremessado do alto partiria feito osso, e assim fosse também um moço.
                Não caia, não pule do alto, és vivo e voas a jato furando os limites do som; pintas nas paredes mortas de uma cidade morta tua mostra de corpo, e num pisco estás espalhado por aí, dissolvido.
                A vontade do peito é leão, quer gritar Não e chutar o vazio que nem vazio é,
pois nunca sequer deixou entrar o vazio do tempo, o nada,
cabeça maquinada martelo pica-pau coisa imbecil funcionando à pressa e metas tolas de merda. Funcionam-se assim as pessoas e o mundo em que vivem.
                Nós não.
Nós saímos do ciclo metrado do tempo e o ritmo é outro, o bumbo é outro, marcando a levada doida cambando de um lado a outro carregando o quadril mole que quebra e samba, de mãos dadas na roda santa que é vento e mais nada.
                Tudo voa na vida e ar me falta, me salta o peito, voar não dá fui feito pra parar!!! Enquadrado e sugado pelas vozes exigentes e tiranas invisíveis que fizeram, desde quando?, tic-tac, sob o pano do lençol antes do sono anzol que engatava-se-me no palato mole.
               
                Tic-tac-tic-tac vai menino tic-tac-tic-tac rapidinho tic-tac-tac indo bem ligeiro para a morte, para a morte!, vai menino! embusteiro
               
Arrastando-me pelos momentos o anzol estava prestes a rasgar-me a cartilagem da faringe, comprometendo todo o Sistema Vocal, quando encontrei-me perto do céu e longe do certo, sentindo meu sentido de elefante...
tudo isso é leve...

Por isso, amigo,
quando a vida nos encontrar nas rotineiras corredoras do banheiro à sala de um prédio público
me olhes, e digas ô velho vem cá e abrace-me chorando quanto tiver que vazar
pelos olhos, nariz e boca

e a vida é eu nunca ter-te dito isto
e só estar fazendo-o agora, embora
soubéssemos os dois...!

Um comentário:

Ricardo Prado Martins disse...

Belo momento, bela entrega, as cegas, sem voz, algoz ao contrario.

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