motiro'o
sexta-feira, 16 de novembro de 2012
o rato
quinta-feira, 27 de setembro de 2012
ora aquilo, ora isso
a flor do amor sem compromisso
atiço o vento e de repente, pudera!
de flor em flor, faz-se primavera
e pouco a pouco
de canto em canto
cantado com todo o encanto
a flor nasce tão bela
e tão logo faz-se pranto
o raio apaixonado pela flor
afia a raiva dos trovões
o riso raro do amor
tem um jeito de sumiço
a flor, o raio e o trovão
vértices do rebuliço
do amor que nunca é paixão
mas vício
quinta-feira, 28 de junho de 2012
O abraço
sexta-feira, 8 de junho de 2012
sempre visível e nunca alcançável
ela dorme
respirando baixo sob nossas vidas
sussurrando em nossos ouvidos
nós a bebemos, todos os dias
tomar água é pôr um pouco do mundo pra dentro
e o mundo que gira não pode ficar parado
e nos gira junto
girando por todas as partes
logo quebra o cimento
e entrará em movimento
o horizonte distante
sexta-feira, 1 de junho de 2012
o herói, o vilão
quarta-feira, 30 de maio de 2012
dissonância fria
máscara que não cai
metade de mim quer
metade de mim fica
dias sem ela
corpo que pede
volta, amor
falta, amor
explica, amor
explica, dor
quando acaba?
quando falta?
não, quando supri
Energia que vai
tristeza que vem
sozinho fico
maldito destino
física dor
coração que para
Energia que vem
alegria do bem
companhia que faço
bendito destino
excitação dormente
coração que dispara
terça-feira, 29 de maio de 2012
Soneto do meio dia
segunda-feira, 28 de maio de 2012
Ler menos politica, ler mais.
Preciso escrever, e preciso de um cachorro, preciso de uma menina pra dizer que amo, e preciso ter amigos.
Mas tenho tudo isso, em algumas doses, em alguns dias. Em verdade tenho tantos dias! Tenho tanto, e tenho que pulsa. E porque então esse vazio, essa angústia, ou esse gosto na boca de algo que me falta?
Por que um fogo que persegue instiga, e contorce e pipoca?
Escrevo e não canso, tento e não convenço, amo e não entrego, converso e não me sou!
Então por que tanto insistir, por que a loucura, demasiado cotidiana, por que um descontentamento tamanho?
Preciso de inspiração e preciso de paz. Preciso de tempo e preciso correr, preciso descansar. Preciso de um cão, e preciso de um gato, preciso de tempo pra pescar, e de pôr do sol pra cantar. Preciso de uma guitarra e um bolero, preciso de tango, e preciso tanto dela.
E tenho medo de falar, que preciso e quero, e quero precisar e quero sentir. Quero deixar de lado essa dose de anestésico da vida que me tomo todo dia, quero deixar o instante sobrevir, quero deixar o presente pressentir. Quero me inteiro, quero te inteira. Quero metades, quero.
Até extinguir, até entender, até não ter fim. Quero descobrir o limite do desejo, quero saber sua matéria e seus átomos. E fujo, na mesma velocidade.
domingo, 8 de abril de 2012
Celebração (II)
Agora, com as letras nas mãos, pode acordar de novo. Pode dar significado aquilo que parecia apenas sons, apenas consoantes momentos seguidos de momentos, vãos.
A cada moldura que dava para cada palavra ganhava destaque o que não dizia, ganhava evidência o espaço entre as palavras. E deu a isto o nome de intersticio das palavras (a lembrar de um intestino quicá).
Mas o problema persitia - pra que isso de nascer e morrer, terminar e começar - partir e ficar? E de pensar e ser alimentava o ciclo, consumindo toda a vida, toda a vida que pulsa e sangra. E pulsando redigiu as letras, em um blog ou algo novo desse gênero de coisas. E concebeu o novo, como um feto universo, como um mega-portal.
E ele era o espaço, onde projetam-se letras, ele era o momento que nunca sabe-se o que vem, ele era a pergunta, ele era a web e sua infinitude, ele era uma criação conjunta, como um sonho que se compartilha. Ele era nós, ele era nem, mas renascia.
sábado, 7 de abril de 2012
Depois de um ano no deserto, o pescador volta à praia.
Seu barco ainda está lá, encalhado na areia, descascado pelo sol e cheirando a maresia. O limo agora cobre quase toda a proa que, na maré cheia, fora lambida tantas vezes pela espuma salgada do mar. A popa, por outro lado, está mais seca do que nunca – mesmo no pico da enchente, as marolas não a alcançam. Tornou-se o berçário perfeito para a mamãe quero-quero, que agora coloca seus ovos no vazio onde estaria o motor que nunca fora comprado. O barco de madeira, de 12 pés, sempre navegara com dois remos velhos, que nunca mais seriam encontrados.
Descalçou as sandálias de dedo e correu em direção ao velho companheiro de mar. Beijou o casco, subiu a bordo, pôs-se em direção de sentido e anunciou o retorno. “Marujos, companheiros, depois de um ano enfrentando as privações que a aridez me conferiu, estou de volta para avançarmos ao imenso oceano e navegar nas farturas que só essas águas podem oferecer!”. A seus pés calejados, que fugiam das farpas de madeira, dois siris escutavam, distraídos, procurando o buraco que os levaria de volta à areia quente.
O cansaço era grande, mas a ansiedade era muito maior – tinha que ir ao centro da cidade comprar novos mantimentos.
A pracinha ainda está lá, rodeada pela Igreja, pela Prefeitura e pelo Fórum e também pela mercearia, pela farmácia e pelo boteco. No centro, um chafariz de cimento, sem água, virara refeitório das centenas de pombas, abastecido pelas crianças depois das missas de domingo. Dos quatro bancos da praça, um estava quebrado; outros dois, ocupados por carolas que, com rosários nas mãos, esperavam a hora da missa; e o último servia de cama, forrado com jornal, para um bêbado da cidade.
Um arrepio de êxtase e nostalgia passou pela espinha do pescador que voltava para casa. Queria ir logo para o boteco, comprar cigarros e tomar um trago, mas sua moral cristã o obrigou a passar pela Igreja. Ajoelhou-se na frente da Nossa Senhora dos Navegantes e rezou dez ave-marias em dois minutos, afinal, a mãe dos mares sabia que ele não tinha muito tempo a perder.
No boteco, encontrou alguns velhos parceiros de bar, que o cumprimentaram com tapinhas nas costas. Comprou seis maços de cigarro, sem filtro e sem contraindicação e, num copo fosco de velho, cheirando a sabão de coco, deu três tragos de cana para apurar os sentidos. Antes de se despedir, anuncio o retorno. “Marujos, companheiros, depois de um ano enfrentando as privações que a aridez me conferiu, estou de volta para avançarmos ao imenso oceano e navegar nas farturas que só essas águas podem oferecer!”. Um dos bêbados, que o assistia com faróis baixos, não conteve um soluço; outros lhe ofereceram mais cachaça; o resto continuou bebendo cerveja e cachaça e comendo rollmops e bolinhos de siri.
Faltava pouco para poder voltar à areia e em seguida ao mar. Foi à mercearia e comprou três quilos de farinha de trigo, duas caixas de fósforo, óleo de soja e um galão de água vazio, que depois o encheria na bica perto da praia. Enquanto passava entre as prateleiras de comida e de não-comida, as duas únicas do lugar, chutou sem querer uma pequena panela de alumínio, que devia servir para as goteiras nos dias de chuva. Olhou para o caixa, era a filha mais nova da dona da mercearia, que nem ouviu o barulho, estava concentrada em lixar as unhas da mão esquerda, apoiada sobre um pote de pé-de-moleque. O pescador percebeu a distração e escondeu a panelinha dentro da camisa, nas costas. Pagou a conta e conseguiu roubar. Mas não fora um crime, afinal, se tivesse tempo, convenceria a caixa que a panela seria para um causa nobre.
De volta à praia, descarregou as compras no barco, inclusive o galão, já cheio de água doce e cristalina. Foi, então, ao rancho da colônia dos pescadores, precisava de uma tarrafa e de um remo. O casebre de madeira azul clara, com a inscrição colônia B-28, em vermelho, ainda está lá, no canto direito da praia, à beira-mar. Fora lugar de memoráveis reuniões e confraternizações dos mais célebres marujos e pescadores da região. Logo após a entrada, entre dois pilares, uma placa indica o Memorial dos Homens do Mar, feito por retratos, apoiados sobre um casco de madeira, de pescadores mortos em acidentes marítimos de toda sorte. Velas apagadas e flores murchas rodeam as fotos empoeiradas. O pescador não se contém, deixa cair uma lágrima sobre um cinzeiro que alguém esqueceu no altar.
Levanta a cabeça e olha para os lados, só encontra um velho companheiro de mar, num canto, sentado sobre uma caixa de batatas, fumando um cigarro de palha. Recompõe-se e anuncia o retorno. “Marujos, companheiros, depois de um ano enfrentando as privações que a aridez me conferiu, estou de volta para avançarmos ao imenso oceano e navegar nas farturas que só essas águas podem oferecer!”. Mas, para isso, o pescador precisa de um remo e uma tarrafa. O velho apaga o cigarrinho, suspira e diz que pode pegar o remo que está encostado na parede, atrás de uma canoa, mas a tarrafa ele não pode emprestar, quer vendê-la, largar a pesca e passar um tempo no deserto. O pescador insiste, mas o velho resiste. Acabou saindo só com o remo na mão.
Andou poucos metros, cabisbaixo, com o remo apoiado no ombro e na areia, criando um trilho entre conchas e algas, até tropeçar em um tronco trazido pelo mar e deixar o remo o cair. Fita o pedaço de madeira e o levanta, descalça as sandálias e volta para o rancho correndo, empunhando o remo com a pá para frente, até encontrar a cabeça do velho, que fumava seu último cigarrinho de palha.
Por um momento, o sangue espirrado na parede e no chão comoveu o pescador, mas o sacrifício fora necessário, afinal, o velho não passava de um desertor que não queria dar-lhe uma rede para a pesca.
Foram dez dias no mar. Só saía do barco quando encontrava algum banco de areia para acender uma fogueira, fritar um peixinho e esquentar o pirão. Pescou trinta peixes, comeu vinte na empreitada e outros dez foram vendidos para um turista, na beira do mar, quando voltou. Juntou o dinheiro e foi para o boteco, tomou cerveja e cachaça e comeu só rollmops, porque os bolinhos eram caros.
Quando um antigo pescador, bêbado, doido varrido, que passara alguns anos cidade, foi ao bar tentar convencer os boêmios a voltar para a pesca, não conteve um soluço e ofereceu-lhe um trago de cachaça.
terça-feira, 31 de janeiro de 2012
terça-feira, 17 de janeiro de 2012
sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
...
Vender, VEnder, VENder, VENDEr, VENDER
pra
Comprar, COmprar, COMprar, COMPrar, COMPRar, COMPRAR
E er
E ar
E Errar
quarta-feira, 4 de janeiro de 2012
espera
transitando
ora céu ora inferno
preso o pranto
a cada migalha
um novo caminho
trânsito de cores quentes
por entre espinhos
a cada instante
uma conquista
e para cada qual
a minha morte
sábado, 31 de dezembro de 2011
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
Alpino temente
Que em palavras vai-se cambaleante
Não desvela o que duvida
Tem a alma torta e ungida
É em si claustro
Tem mágoa latente
A força vacila ausente
Conjura o sofrer
Tolhe o dia do gosto
Tem o rosto oposto
Vê-se fora garboso
Mas não escapa
Denota querer
domingo, 25 de dezembro de 2011
Ao meu priminho, com quem brinquei na piscina hoje
O caubói, no touro na água, não tem cela
Às costas calejadas do touro,
O caubói se funde com seus braços lisos
De esperança, de vida e
De vontade de vida que,
Transfundida ao touro velho,
Transforma-se em vontade de esperança
Na vida
ao espírito do natal
Não me escondo,
Na luz,
Deixo-me queimar
À noite,
Com plástico me cubro
De verde e
Um pouco de vermelho
***
"O peru é muito difícil de comer!", confessou.
Imagina se fosse fácil, pensei e
Logo repensei, pois
Se fosse fácil,
Por que lamberia com tanto gosto esta coxa, esse peru?
Ele começou na coxa e até lambeu os beiços por ela,
Mas não se conteve, passou pela asa e foi até o peru
Logo depois, palitou os dentes e libertou seu...
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
pouco
e brisas lentas
demoramo-nos em vão
persegui tua alma
e dentro encontrei
tão pouca imensidão
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
Pintor de facas
Cem dimensões
domingo, 11 de dezembro de 2011
domingo, 4 de dezembro de 2011
Dois
Meu amor é outro.
Tivemos nosso tempo.
Já sou de outrem.
Engodo! Covarde!
Não foste capaz!
No último instante,
ou em qualquer outro...
Calou-te.
Ousas dizer:
"não pude",
antecipando o que dantes não era.
Agora leva,
é teu,
o "eu te amo" deste amor,
que feneceu.
Não levo!
Pois não podia
dizer a alguém um "amor",
que não havia.
Era carinho, o que sentia.
Tua sombra, o que eu via,
teu cheiro, o que queria,
mas tua alma, o que exibias.
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
Soco
[de mundo,
E me tranco nesse quarto para fazer minha poesia inútil;
[palavras faladas,
[ dentro ainda:
[circulam fugazes.
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
olhos de brasa
O sol se pôs e ela deu um mergulho no mar para aliviar a histeria silenciosa de todos os seus próprios sóis que ainda não se haviam posto.
conversa de banheiro
1 ai, esses olhinhos...
2 meus olhos nunca mentem
1 teus olhos nunca mentem,
1 são olhos de poeta.
2 ahaha essa é boa
2 "meus olhos nunca mentem, são olhos de poeta."
1 é, boa mesmo...!
- disse esse meu amigo
querido pela negra pele
que o aço de sol crivo
e os olhos verde-vivo
interceptam-me!
o gosto pelas palavras nos comove a veia
o sangue de células pares nos sobe os olhos
enquanto a ceia nos vem à mesa
com temperos brasuca-arábicos
e o vinho, quando a cerveja, quando o uísque, quando a fanta, quando a água...
sábado, 19 de novembro de 2011
espelho
quando foi que enlouqueceu?
não me chames de feia
me solte da teia
dos males podres seus
espelho, espelho meu
o que fazes comigo é triste
a beleza que consumiste
devorada, esmaeceu
espelho, espelhos tantos
imponentes e maldosos
deixem livres as mulheres
deixem que cada beleza cante